12 de março de 2014

O que não se deve ler

E hoje eu acordei com aquela vontade ininterrupta de escrever a vida. Aquela maldita vida que se perderia no meio de uma frase, no ínterim de uma vírgula.

Maldita! 

Sabia eu que assim que começasse a entoar qualquer canto ou qualquer melodia de qualquer esquina, poste de luz, poça de calçada ou silhueta que mora na rua, ela iria se perder.

E foi-se. Esvaiu-se como o homem sem rosto que pede por comida ou a criança com sorriso torto que se afugenta ao sol de meio dia.

Eu quis mesmo escrever sobre mim mesma perdida no sorrateiro pesar de viver, num outro canto ou num outro mundo. Quem sabe dizer o significado dessas vontades passageiras e lúgubres?

Quem saberia dizer onde vive meu amor ou em que ombro ele repousa adormecido?

Não saberia.

Qualquer "qualqueres" que tentei decifrar nesta manhã irá se prenunciar numa noite clara e eclipsada por outros pensamentos e memórias. As descrições se tornam válidas quando preenchidas de significado, mesmo que abstrato e amórfico. 

É hora de saber parar de escrever para que as poucas palavras não fiquem mudas de não-significado ou um qualquer-significado.

Natália Iorio
12/03/2014 - 10:55

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