24 de novembro de 2010

Café com leite

Hoje eu preferi o silêncio.

Não liguei o rádio nem a TV,

Fiquei estirada pelos cômodos ausente de sons harmoniosos,

Preferi o barulho das folhas do jornal enquanto o lia,

O café na xícara branca enquanto esfriava,

Das palavras que ecoavam e evocavam pensamentos em minha cabeça.


Preferi os assaltos, tiros, novos governos sendo formados, sirenes da polícia carioca;

Shows, novas peças teatrais, lançamentos de livros;

Bombardeios, discursos de paz, discursos de guerra, cólera;

Novos prazos para os vestibulares fraudulentos, ministros e presidentes.


Preferi o som do papel jornalístico sendo jogado no sofá,

Dele sendo pisoteado pela minha cadela,

Do café sendo acabado pelos meus goles,

Pela cama desarrumada, pelo lençol azul e a fronha amarela.


Preferi ligar e desligar rapidamente o computador,

Era muito barulho para esse dia.

Prefiro o som das gotas da chuva de ontem que sobraram no telhado,

Do sol que vai e vem no céu nublado,

De algum estalo de algum eletrodoméstico,

Da energia elétrica passando por esses aparelhos.


Quero o som do meu reflexo no espelho,

Do meu cabelo sendo penteado,

Do esguicho do perfume em meu pescoço,

Da roupa escolhida vestindo meu corpo,

Do sapato e do colar,

Do batom e da maquiagem.


Iria querer uma música e um filme,

Uma novela e uma reportagem que visse meu dia

Que esquecesse das notícias e do sangue,

Dos acordos e das corrupções;

Que virasse a página do livro da minha cabeceira,

Que moldasse o sol em minha silhueta,

Que chovesse em meus sentimentos,

Que tomasse a minha voz,

Que arrumasse a minha cama.


Hoje o silêncio é meu comportamento,

É a minha harmonia e minha orquestra,

Meu desespero e minha alegria,

Minha tristeza e minha esperança.


É apenas o silêncio a minha manhã,

A minha espera calada,

A minha antecipação de pensamentos

É a minha vida deste dia.