21 de março de 2013

Banal


E foi a guerra. A guerra. Aquela. Foi ela.
Que entrou feito barata pelo ralo a noite e veio assustar a quem andasse atrás dum copo d’água.
Aquela que ao amanhecer reabre a padaria desfiando bom dia aos que param na esquina.
Ela, parada, no carro aos fins de tarde, no calor do engarrafamento quando a mãe se dá conta do atraso de buscar o filho na escola.
A guerra pacificada dos domingos ao lado de alguém, onde se pode ver o silêncio e ouvir um certo amor.
Amor de guerra.

É ela e, somente, a guerra.
A violência de ruas caladas pela chuva, dos transeuntes que se esbarram remexendo poeira e sentimento.
O amor de paz quando o trem passa pelos trilhos
Ou
Pela falta de guerra quando se apaga um cigarro.
E ela.
Uma guerra enunciada e elucidada.
Uma paz medida e racionalizada.
Aquela. Ela. Foi ela.
A coragem do sim
E a angústia do não.
A calma do escuro
E a cegueira em plena claridade.
A paciência violada do menino que empina pipa na rua de paralelepípedos.


A paz.
Da vó que erra o bolo de laranja.
Do pai que esquece o dia de aniversário da mãe.
Do irmão que não sabe que tem uma irmã de outro estado.


A guerra.
Da luz que queima no poste da rua.
Da moeda de cinco centavos perdida na calçada.
Da mega-sena acumulada na lotérica.
Da cachaça que seca no fundo do copo na pia dum bar.


O amor.
Da moça com frio que enlaça seu pescoço num cachecol.
Do relógio do velho que marca 22:15.
Do tênis vermelho que calçam os pés dum estuprador.
Da garota que respira num hospital.


Nós, aquela. Aflora flor em guerra.




Natalia Iorio – 19-03-2013

8 de março de 2013

Alessandra


era tarde quente
daquelas de vento fraco
no calcanhar

e ela,
Alessandra,
debruçou-se em melancolia
de olhos parados
e mãos frouxas


nua, com a coluna envergada
parada ao meio fio da cama,
comeu a laranja morna


sem prato
ou guardanapo


meia laranja morta
sem faca nem palavra


ficou Alessandra
parada,
na lua
de seus pensamentos





Natalia Iorio
08/03/2013  -  00:14