29 de julho de 2014

Notícia repentina



diante de tanta pressão,
ostentação e
prisão


nada me resta
a não ser
um rascunho de trovoada,
um pergaminho
de racionalidade,
um inquérito
de emancipação.


diante de tamanha
incoerência,
risca-se o fósforo
da violência,
caminha lento
o tanque de guerra
e


nada me resta
que uma caneta
de palavrórios,
um tinteiro de azul céu
ou pincel
para esmaltar teto
de favela.


diante dos tiros,
gases e bombas
varrendo em meses,
de discursos
sonolentos,
de antemão,
vagabundos
dos que nada sabem


nada me resta
que um rabiscar sem fim
pendido em anzol
de pescador


nada me resta
que o pavio curto
e
o iluminar
do toco de vela
para enxergar,
como os versos,
na escuridão.




Natalia Iorio

Rio, julho de 2014.

20 de julho de 2014

Minha Calunga




Salve Maria Padilha do Cabaré!




Essas ruas são todas minhas
A noite é vestida em mim feito lua
Ninguém me diz onde ir
Ninguém diz o que fazer


“Boa noite moço”
Não importa se é mendigo
Ou rapaz bonito


As ladeiras
Esquinas
Igrejas e
Vielas
São todas dela


Ninguém a toca
E a todos ela conhece


Dorme de olho aberto
Sorri na encruzilhada
Faz gato morder o rabo


Formosa mulher
Mulher?
Gira, gira menina
Rainha.




Natalia Iorio

Rio, julho de 2014

11 de julho de 2014

Afrodite encontra-se com Eros


e depositas em minhas
pequenas e cálidas mãos
uma dança
como a pétala de um
Lírio


estas minhas mãos
trespassadas por arestas
donde suam meus
ar(Dores)


mas, acalma-te!
delas, ainda,
não escorre
Sangue.



Natalia Iorio

Rio, julho de 2014.

2 de julho de 2014

Cativeiro


                                                                                   Para Alan F. Paes e Alessandra Borges




Os pés tocaram o chão frio
feito uma porcelana morta,
próprios pés gélidos
de coisa morta.


Nossos lábios tocaram
o assobio de um clarinete,
uma dança orquestrada
num réquiem.


Meu corpo misturou-se
ao azulejo do banheiro
e o seu beijo escorreu
pelo ralo do jardim.


Nossos pés tocaram
o chão em túmulo,
o escuro devorou a réstia
de luz do entardecer.


A longa esperança quebrada
e o desejo de uma vida sanguínea
caída, feita anjo,
no nada.





Natalia Iorio

São Paulo, julho de 2014.