É na imaginação que vive
O amor que nunca foi,
O amor que só é meu, seu e de todos.
E quando a realidade me toma de assalto,
Já não posso secar meus olhos,
As lágrimas irrompem no silêncio transcrito,
Varrido e acalentado pelo calor da razão.
É em minha imaginação que respira,
A vida e a morte que não existem,
A palavra e o gesto que nunca me tocou.
Todos os batuques do coração vital de concreto,
A cidade treme com os tormentos da massa humana,
E a psicologia solitária grita como um soco na garganta,
O homem – fragmento transita entre as luzes cegas.
São as estrelas de meu céu,
De todo aquele nosso céu,
Em que posso conquistar todas as promessas.
Nas muitas torres e árvores tímidas,
A cor desbota o brilho do céu de chumbo,
Chove a água de lama de culpa e imediatismo,
Transmite mil e umas respostas para nenhum interlocutor.
De mãos dadas,
Eu caminho ao seu lado,
Andando na melodia tenra.
Corremos e do suor do cotidiano,
Lamentamos o cansaço de nada,
De tudo que nos leva o abraço da esperança,
O que nos derruba do sono profundo da confiança.
Nunca dorme o sorriso,
O sol que ilumina os rostos nas ruas,
O crepúsculo que desenha o amanhã.
Uma multidão de faces sem sentenças,
O meio dia vermelho que nos torra o sangue,
Todo o frio que urge dos túmulos,
Que como um berço nos faz dormir.
É na imaginação que vive,
Aquilo que foi em algum lugar,
Vive o tempo sem ponteiro.
É na imaginação minha e sua,
Que devem viver os acontecimentos
Cheios de movimento e formas.
Não existe em nosso mundo,
Um mundo outro que não seja
O de imaginar os cadáveres cheios de cor,
As nuvens cheias de som e silencio.
Não existe aquele mundo,
Em que as pessoas revelam suas rugas,
Suas silhuetas disformes,
Nem suas palavras cálidas de sofrimento vil.
Só existe o mundo da corda bamba,
Do céu sem estrelas, da madrugada sem cor,
Dos filhos sem netos, dos pais sem mães.
Só existe a queda do sentimento em pormenores,
Confusas citações e criações,
De dias que não mais existem; das atitudes,
Que necessitam percorrer as ondas do imaginável.