7 de junho de 2011

Do mesmo lado

É na imaginação que vive

O amor que nunca foi,

O amor que só é meu, seu e de todos.


E quando a realidade me toma de assalto,

Já não posso secar meus olhos,

As lágrimas irrompem no silêncio transcrito,

Varrido e acalentado pelo calor da razão.


É em minha imaginação que respira,

A vida e a morte que não existem,

A palavra e o gesto que nunca me tocou.


Todos os batuques do coração vital de concreto,

A cidade treme com os tormentos da massa humana,

E a psicologia solitária grita como um soco na garganta,

O homem – fragmento transita entre as luzes cegas.


São as estrelas de meu céu,

De todo aquele nosso céu,

Em que posso conquistar todas as promessas.


Nas muitas torres e árvores tímidas,

A cor desbota o brilho do céu de chumbo,

Chove a água de lama de culpa e imediatismo,

Transmite mil e umas respostas para nenhum interlocutor.


De mãos dadas,

Eu caminho ao seu lado,

Andando na melodia tenra.


Corremos e do suor do cotidiano,

Lamentamos o cansaço de nada,

De tudo que nos leva o abraço da esperança,

O que nos derruba do sono profundo da confiança.


Nunca dorme o sorriso,

O sol que ilumina os rostos nas ruas,

O crepúsculo que desenha o amanhã.


Uma multidão de faces sem sentenças,

O meio dia vermelho que nos torra o sangue,

Todo o frio que urge dos túmulos,

Que como um berço nos faz dormir.


É na imaginação que vive,

Aquilo que foi em algum lugar,

Vive o tempo sem ponteiro.


É na imaginação minha e sua,

Que devem viver os acontecimentos

Cheios de movimento e formas.


Não existe em nosso mundo,

Um mundo outro que não seja

O de imaginar os cadáveres cheios de cor,

As nuvens cheias de som e silencio.


Não existe aquele mundo,

Em que as pessoas revelam suas rugas,

Suas silhuetas disformes,

Nem suas palavras cálidas de sofrimento vil.


Só existe o mundo da corda bamba,

Do céu sem estrelas, da madrugada sem cor,

Dos filhos sem netos, dos pais sem mães.

Só existe a queda do sentimento em pormenores,

Confusas citações e criações,

De dias que não mais existem; das atitudes,

Que necessitam percorrer as ondas do imaginável.