25 de setembro de 2014

Manguinhos

O trem zumbiu ao esconderijo do sol,
em seu barulho sinistro,
que saía de suas veias na Central do Brasil



Passou a locomotiva gingando sob a favela,
passou gente em cima de gente,
correu sonho feito eletricidade nua
em cima de mães sem seus filhos



Passou a bala de fuzil,
e um avião no céu azul,
passou um sábado e dois domingos,
escorregou feito chuva os pensamentos do garoto
que vê segredo nas vielas



passou aquele trem
e o que ele viu
foi segredo,
foi suspeito,
foragido



Foram olhos furados,
olhos sem luz,
foi a queixa em enxergar.




Natalia Iorio

Rio, setembro de 2014

12 de setembro de 2014

Rua Uruguaiana

Havia uma ansiedade
pela espera de uma notícia
e uma saudade antiga
por um verão que se visse
pelas paredes
da cidade.



O cigarro queimava,
dentre os dedos de 25 anos
e olhos concentrados
viam pela janela
o começo dos telhados.



Não se soube da notícia
enquanto o cigarro acabava
e a sombra das cinco da tarde
escurecia a morada
daqueles olhos.



Para tanto,
havia um verão
em cada uma daquelas
esquinas ansiosas.




Natalia Iorio

Rio, setembro de 2014.