O trem zumbiu ao esconderijo do sol,
em seu barulho sinistro,
que saía de suas veias na Central do Brasil
Passou a locomotiva gingando sob a favela,
passou gente em cima de gente,
correu sonho feito eletricidade nua
em cima de mães sem seus filhos
Passou a bala de fuzil,
e um avião no céu azul,
passou um sábado e dois domingos,
escorregou feito chuva os pensamentos do garoto
que vê segredo nas vielas
passou aquele trem
e o que ele viu
foi segredo,
foi suspeito,
foragido
Foram olhos furados,
olhos sem luz,
foi a queixa em enxergar.
Natalia Iorio
Rio, setembro de 2014