Letícia recostou-se sobre a
parede sentindo o gelado do concreto. Respirou algumas vezes. Andaria por toda
a Lapa. Olhou para os Arcos acima, pensou ter visto uma fagulha de sol, mas seu
corpo era todo cor de sépia opaca, quase sem calor. Tomou fôlego e coragem. Esvaziaria
todos os passos das calçadas, rondaria seus sentimentos... Mem de Sá,
Riachuelo, Lavradio... caíra na Praça da Cruz Vermelha onde a graça dos
mendigos vinham bisbilhotar sua dor.
Ah! Mas como eram pequenas
aquelas ruas!
Quem nunca perdeu um coração
esfomeado pelas esquinas da cidade?
Quantas casas ausentes!
Perdera seu coração. Alguém comeu-o
por engano, como quem percebe sua luz num campo escuro.
Pobre coração! Era preferível
viver perdido sob o cal do passado daquela terra do que ser digerido por um
incauto.
Letícia, que agora tinha um
nome, também tinha um senhor, alguém a quem sempre servir e esperar. Estava doente
e andava desnorteada, como mariposas que rondam uma lâmpada acesa em noite
quente. Sentia-se como uma escrava do vazio, da dor e do sorriso bonito.
A moça afoita e singela
romperia alucinada por qualquer viela sem ter razão aos seus pensamentos e nem
paz aos seus calcanhares. Foi perder a sua vida num coração.
Ela era agora, puro amar em
amor.
Mas, somente se, assim o
quisesse.
Natalia Iorio
Abril de 2014.