27 de junho de 2013

Teu,

café requentado,
coado à meia noite de ontem


soneto solto,
duma música sem métrica


muitos encantos,
para em uma única cama se deitar




Natalia Iorio
27/06/2013


19 de junho de 2013

Narração

A palavra da noite
tornou-se tinta
e pintou-se como choro de criança
na madrugada.


A palavra de hoje,
bateu à porta do jornaleiro,
sentou-se na beirada da cama
e bebericou o melhor Whisky.


A palavra sem voz,
deu a todos a insônia,
fez amanhecer o dia
e, da luz que vinha,
amou a saudade.




Natalia Iorio
19/06/2013 - 22:56

13 de junho de 2013

Resto


E quero viver assim ...
Feito copo d’água duma flor,
Feito saia da garota,
Feito soneto para o amado.


Querer viver assim ...
Feito conversa de botequim
Feito fim de tarde de domingo,
Feito um sorriso silenciado.


E quero viver assim.


O resto que se acabe em mar.




Natalia Iorio

13/06/2013 – 12:21

8 de junho de 2013

Devagar

Eu quis ler Vinícius andando pela calçada,
assistir um eclipse no parque,
tirar a areia da canela.


Quis cantar uma melodia sozinha na rua,
recitar o verso dum amigo da janela de casa,
ouvir Chico do vizinho.


Eu quis a cerveja do boteco do bairro,
de dançar à sombra da lua,
de acender a luz do poste.


Quis ver as sombras das árvores,
do garoto bronzeado correndo,
dos ladrilhos do meio fio se confundir com o corpo do mendigo.


Eu quis tomar um café com o amante,
de dizer bom dia à minha mãe,
de comprar uma flor ao meu pai.


Quis acordar pelo apito do portão,
ver os trabalhadores caminhando,
de poder dizer a verdade.


Eu quis ...
Viver tão assim.




Natalia Iorio
Rio, 08 de junho de 2013

4 de junho de 2013

As caras do mundo

Os caras do mundo pairavam sob a cidade:
rostos de rugas enegrecidas,
peles queimadas de sóis de meio dia,
expressos em olhos de lua minguante.


Os rostos do mundo são páginas de listas telefônicas:
caras que se empurram no trem,
perdem-se pelos trajetos de sempre
e voltam por caminhos de dias habituais.


As peles do mundo são feitas de guarda-chuva:
piam como corujas afugentadas do temporal
e morrem em suas camas
pelo trabalho ou pelo estômago vazio


As expressões do mundo são cemitérios de não enterrados:
caudaloso rio de destinos sem escolhas,
de livres arbítrios cansados
em que se mortifica e amotina a vida cotidiana.




Natalia Iorio
21/05/2013