4 de junho de 2013

As caras do mundo

Os caras do mundo pairavam sob a cidade:
rostos de rugas enegrecidas,
peles queimadas de sóis de meio dia,
expressos em olhos de lua minguante.


Os rostos do mundo são páginas de listas telefônicas:
caras que se empurram no trem,
perdem-se pelos trajetos de sempre
e voltam por caminhos de dias habituais.


As peles do mundo são feitas de guarda-chuva:
piam como corujas afugentadas do temporal
e morrem em suas camas
pelo trabalho ou pelo estômago vazio


As expressões do mundo são cemitérios de não enterrados:
caudaloso rio de destinos sem escolhas,
de livres arbítrios cansados
em que se mortifica e amotina a vida cotidiana.




Natalia Iorio
21/05/2013


Um comentário:

  1. ai, que medo desse poema. mas é o medo que se sente da cidade. o livre arbítrio! as rugas, as páginas de listas telefônicas, os trens, os estômagos vazios: eternos personagens do cenário urbano! gostei muito!

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