12 de maio de 2011

Um minuto

Não quero declamar novamente de que matéria é feito o meu fracasso,

Nem deslizar pelas lamúrias do cotidiano,

Muito menos sufocar o meu choro conduzido pela não realização de algo.

Quero me esconder nos mares de desafeto,

Corromper-me em sonhos ilusórios

E me distanciar do meu lúgubre ser.

Meu gosto seria enrolar-me em afagos quentes de outrem,

Fazer emergir em minha superfície cálida o sorriso perdido,

A flor que desbota em meu coração,

Ou apenas o brilho daquela calmaria dos tempos passados.

Daquele sol que decanta toda a sabedoria de ser existente

Só uma pequena parte não se empobreceu,

Apenas a liquidez que corre pelos dias que permanece.

A imobilidade que esfacela minha esperança,

Movimenta-se em ininterruptos dinamismos de desolação

É a queda da nota musical numa canção,

Ou a vida que se acaba por ela mesma.

Não há dor que cante de outra forma que não a da aspereza,

Nem que declame seus sonetos pelo sofrimento,

Não há chuva ou lamento que lave a alma de seus ferimentos,

Nem um doce consolo que me abrace no fim da madrugada.

Não quero mais pensar nas danças sem pessoas,

No rosto sem fisionomia,

No relógio sem ponteiros.

Prefiro aguardar o que não existe,

Sofrer pelo inexplicável,

Enquanto aquele minuto se precipita em destruir o que há.