25 de novembro de 2011

O oposto

Ele estava sentado no sofá de sua casa olhando a janela. Tinha uma árvore ali, balançando ao vento de outubro, aquele vento estranho, meio de inverno, meio de primavera. Estava sozinho olhando o sol escrevinhar seus objetos mais íntimos; o mesmo sol que o acordara as sete daquela manhã suspensa pela promessa de uma tempestade vespertina. Eram oito horas, aquele mesmo sol estava lapidando o vidro de sua janela em mil cores desbotadas. As sombras dos seus livros, das suas roupas de ontem jogadas na cadeira, do seu óculos redondo pousado displicentemente em seu colo. Toda aquela sombra que era azul, ela inteira era azul, todas as suas roupas, seu silêncio e a impressão de seu olhar nele. Ela era azul para ele, mas eram apenas sombras e silêncios num azul sem fim. O céu que ele olhava era azul. O céu é azul.


Andou de um lado para o outro sem encontrar qualquer sentido em seu ziguezague. Era o sol que lhe esquentava as têmporas, o sol cada vez mais alto no céu.


Recolheu seus objetos silenciosos os colocando em seus devidos lugares e, olhando de esgueira, quase sem querer, ele a viu, ali na parede, escondida no canto da sala. Curvada, de forma mal feita o rosto. E ela era azul.


Seu coração sublimou, sumiu, correu. Desapareceu. Deixou em seu lugar um canteiro sem flor. Tudo era vermelho dentro dele. Lá, parada à sua frente, a pétala sem ramo, a flor sem pólen, uma flor morta, dissecada pelo sol da janela, pregada à parede.


A flor que não tinha forma nem cheiro, não tinha vida nem palavra. A flor que jazia em seu canteiro vazio, pintava seu coração de negro vermelho.


Ele andou até ela e nada viu além de um desejo oculto, o desejo oceano que incendiava o ambiente em secura.


Ele a colheu, frágil como a mão de um velho, e a pôs sobre a mesa, diante do sofá e da janela. Seu coração morria em magenta queimado. E ela, recendia ali, contemplando, calada os objetos de sombra azul enquanto a própria sombra dele impedia que o sol alaranjasse o cômodo.


Nada mais foi do que o azul e a flor, o vermelho e a morte. Nada mais foi que uma imaterialidade incolor.


NathalyaG

06/10/2011 - 00:47

10 de novembro de 2011

A morte enlouquecida

Talvez a morte e o morrer sejam o fim da linha da loucura. A interrupção do ato de enlouquecer. O espaço atemporal de onde emerge a loucura em estado bruto, a loucura em seu mais primoroso fulgor.

Talvez o que procuramos enquanto vivemos seja o enlouquecimento em seu grau “puro”. Somos invadidos por angustias e aflições por não conseguirmos enlouquecer plenamente, pelo simples fato de termos que recorrer e mergulhar cotidianamente na tal da realidade.

Quando os milhares de homens e mulheres se jogam nas valas, pulam sobre os trilhos eletrizados dos trens, cortam a pele de seus pulsos, respiram os gases do forno da cozinha, esses suicidas, não carregam a loucura em seus olhos, mas a procuram na morte. No fim da linha, morrem em busca da loucura eterna, matam a realidade, a vida de viver.

A constante busca do não lugar e do enlouquecimento as faz procurar mais uma vez, o ato de se perder, um lugar sem volta e sem tempo em que a loucura sã reine como a normalidade e a paz do sempre.