19 de abril de 2011

Sonho

A casa permanece silenciosa. As cortinas estão imóveis, a luz artificial ilumina palidamente o ambiente, algum som irreconhecível clama na madrugada.

O relógio tiquetaqueia incessantemente em minhas paredes mentais, pensamentos transbordam de minha insônia lancinante.

Que horas são? Meu pensamento me pergunta.

Os ponteiros emoldurados de verniz dançam às 01h30min e a madrugada corre parada no breu frio.

Os meus pés descalços descascam o chão, talhando minha sombra onde quer que eu passe; todos os objetos permanecem desordenadamente por cima dos moveis; os livros se fecham pela lágrima do tempo veloz.

As horas passam com um intuito misterioso, nos desperta com o sol claro e nos faz chorar com sua angustia repentina; embranquece-nos com o relampejar dos anos e nos envolve de calmaria em momentos ternos e passageiros.

Que horas são? Minha dor física de vida suplica.

Nunca saberei as horas verdadeiras, nem se são verões ou invernos, ou apenas cordiais primaveras de secos outonos.

A ociosidade se transporta em labor pueril; as chamas se petrificam, as portas não rangem mais, nem o vento canta.

Tudo se resume ao silencio do não horário, da inquietude do não tempo, da paz inexistente, onde todas as horas se perdem.