14 de setembro de 2010

Falta

Hospital. Nove da noite. O ambiente estava atormentado de pessoas andando para lá e para cá. Uma senhora com o rosto excessivamente avermelhado foi levada as pressas para a sala de emergência, um festival de escalpes pendiam nos três braços das três mulheres que estavam sentadas a minha frente.

- “Natalia Io...” – chamava a moça da recepção.

Levantei-me, assinei a minha ficha no balcão, voltei, sentei e esperei. A espera para ser atendido nos hospitais é algo a ser estudado: algumas pessoas não aguentam em si e logo relatam a pior expressão nos seus rostos. Pode ser dor, algum mal estar, uma febre ou o próprio medo do médico (no meu caso, as duas últimas opções relatam bem meu estado de espírito naquela hora). Alguns outros loucos de ansiedade e de desespero esperavam os seus nomes soarem no interfone da pequena saleta.

É estranho notar que todo recinto médico lembra mais um aparelho esquizofrênico que nunca para de se movimentar. Parece como uma mariposa rodando ao redor de uma lâmpada acesa.

Enfim, meu nome soou depois de alguns minutos no interfone. Dirigi-me até a sala seis. Lá um simpático senhor de bigode branco manchado de tabaco me aguardava. Mal me sentei na cadeira e...:

- Qual o problema? – e ele foi bem rápido no cumprimento e, quase imperceptível, foi sorriso que dera.

- Dor de garganta e febre – tive que se categórica também, afinal meu medo só aumentava na frente daquele ser de branco, totalmente branco pela idade adiantada.

- Senta na cama que eu vou ver.

Sentei, ele aferiu minha pressão numa surpreendente velocidade, me mandou abrir a boca, olhou minha querida garganta inflamada com uma luz azulada, voltou para a sua mesa e eu nem pude me sentar novamente porque a receita com os medicamentos já estava feita, e seu braço esticado em minha direção esperando que eu pegasse o papel e saísse logo da sua frente.

- Obrigada. - eu disse.

- Boa noite.

Sai correndo realmente, feliz da vida por não ter que tomar uma injeção. Eu estava feliz, mas o restante do corredor não estava e logo, procuravam um conforto na medicina, é claro, mas não só nela e, sim nas pessoas que a comandam. Infelizmente, acho difícil que pudessem achar algum singelo gesto acalorado naquelas paredes infinitamente escorregadias e frias.

Pensei naquele momento que é melhor ser um pedaço de carne no frigorífico do que esperar alguma ação de caráter humano dos médicos. Ta legal que eles podem estar cansados e desanimados com a profissão que escolheram e todo esse blá blá blá, mas não custa nos olhar como seus pacientes, porque isso é a única coisa que podemos ser naquele instante e, a única coisa que podemos esperar encontrar nas salas medicas é algo que seja da mesma matéria humana que a nossa.



O debate de domingo promovido pela Redetv e pelo jornal Folha de São Paulo me surpreendeu por ver a figura de Dilma Rousseff com seu terninho branco lá junto com seus concorrentes. Fora os fatos, palavras, pautas, tempos cronometrados, a fluidez e a polidez do jornalista que comandava o debate, nada teve de novo e de empolgante nesse debate; e por mais estranho que possa parecer, a meu ver Plínio de Arruda estava muito mais empolgante e confiante no que falava do muitos que vencem as pesquisas de intenção de voto.

É fácil olhar discursos, perguntas, réplicas e tréplicas sem nos sentir nas praças públicas da Grécia Antiga, onde os sofistas e a retórica eram fulminantes. A arte da sofística constava em entrar num diálogo, sobre qualquer assunto estipulado, e argumentar sobre o seu ponto de vista, ou sobre a sua verdade, mesmo que estes fatores não sejam totalmente verdadeiros e sim faltosos com a verdade, muitas das vezes. Menos difícil ainda é fazer uma analogia com os dias de hoje. O ruim é ver que já não acreditamos nessas palavras e viramos céticos frente à TV, sem saber o que dizer ou o que fazer. Na maioria das vezes, e no fundo de nossas metafísicas é isso o que acontece: uma falta do que pensar.



É tão difícil entender e juntar o nosso humano “selvagem” e o humano “social-cultural” que tentamos sempre separar os dois usando o trabalho, as responsabilidades, os estudos como linha divisória desses dois “eus” intrínsecos; o complicado mesmo é perceber que não existe nenhuma separação entre esses dois seres e que tanto somos selvagens com vontade de socar a cara do idiota que nos enche a paciência, como ter a índole da paciência e da educação ética de apenas usar o diálogo e a linguagem como meio de acabar com esse mesmo sujeito.

Esse constante devir humano se torna a maior contradição que me vejo mergulhada e que presencio por todos os lados, entretanto são os opostos que fazem a roda da vida se movimentar, então é conveniente entrar na contradição e viver dela e por ela.


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