Você é a minha prisão,
É você a calma em alma,
A cama de espinhos,
A cura de lama.
Os olhos negros
Que não podem ser vistos,
Que no escuro me abraça,
Estão vocês amotinados,
Amotinados que cantam em silêncio
O coro dos sentidos.
E eu que imploro para o chão,
Que lamento para o ar,
Nessa atmosfera densa de vazio,
Nessa âncora que nos carrega.
Afundá-nos no tablado,
Na luz amarela,
Dura como a espada que me desafia,
Fina como a lágrima que me perfura,
Calma como o calor que me socorre.
Você trás a vela que acende a cortina,
O aplauso que derrete a máscara,
A máscara que cola na pele,
Nesse rosto que derrama cor.
Você me faz suplicar,
Suplicar pelo vazio da plateia,
Pela mais alta estrela,
Que me fura com sua luz;
A estrela que em seus feixes
Arranha-me, mata-me.
O azul que escraviza as nuvens,
Presas na moleza do meio-dia.
É você, você que me faz gritar,
Curvar-me em minha própria silhueta,
Desenhando em mim sombras.
Sombras de pensamento,
Sombras de solitude,
Sombras de amor congelado.
É você em mim,
Que descalços nessa madeira fria,
Transformamos-nos no momento,
Quebramos-nos em versos,
Que nos cria no palco.
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