13 de janeiro de 2012

Um avô

Parecia ser uma crônica viva. O jeito teatral de falar, as expressões exageradas e o largo modo de caminhar.
Naquele dia, sentou-se na beirada da cadeira da varanda, apoiou os cotovelos sobre os joelhos e, contemplando os sapatos sem cadarço, pôs-se a pensar em alguma parte de seu longo dia. O fim da tarde estava claro, o sol havia se escondido nas pesadas nuvens brancas que enchiam o céu.
Entrei bruscamente naquela varanda quebrando qualquer silêncio que por lá vagava. O velho ergueu a cabeça endireitando a coluna. Havia o mesmo cansaço de sempre em suas feições, os olhos castanhos aguados pela idade, a boca amuada entreaberta como numa palavra engolida, a careca pontilhada de pequenas manchas e um sorriso que fazia covas em suas bochechas com uma rala barba grisalha.

- Não fez a barba hoje é? – empertiguei-me a perguntar.
O velho não respondeu imediatamente, preferiu sorrir mais abertamente revelando uma caricatura ainda mais simples que beirava o infantil.

- Você gosta assim? – ele perguntou como se minha opinião fosse decidir sobre a sua futura barba.

- Gosto. Sempre gostei de barba.
Ele continuou a sorrir calado, olhou para os lados mal contendo em si de alegria, dizendo por fim:

- Vou deixar ela então!

Disse isso decidindo-se como se fosse um voto eterno, uma promessa da mais alta valia. A semana passou sem que ele parasse de contemplar o céu sem forma, perdendo-se em pensamentos impenetráveis enquanto acariciava a sua nova barba.

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