13 de outubro de 2011

O acender de luzes

Era fim de tarde azul. Não um azul qualquer, destes que você vê no céu todos os dias; mas, um azul lacrimoso, com nuvens amontoadas pelo azul. Pinceladas em círculos, com notas de púrpura rosa que dançavam no céu. Essas pareciam àquelas nuvens.

Um desses fins de tarde que tingem tudo de azul, até a nós mesmos. Essas tardes que chovem, reaparece o sol escondido, secam-se as poças, as nuvens ainda permanecem, os pontos fixos de laranja neon acendem-se nos postes e seus reflexos amanteigados estão nas portas.

Enquanto ficamos sentados esperando esse azul nos filtrar e nos transformar, ouvimos os carros que voltam para as suas casas, uma mangueira que lava a calçada, a televisão que nos conta a novela.

Eram umas seis horas e o cão latia novamente, a criança gritava com seu amigo em alguma casa da esquina em que nossos olhos podiam atingir com a visão tranquila. O laranja era duro nas ruas e paredes, duro de tão laranja.

O azul era quase aquele azul da madrugada que se esvai dando lugar à manhã, porém, era o inverso: o dia que partia dando lugar a uma madrugada que ainda não havia chegado.

Comemos o pão e bebemos o café tostado. Vestimo-nos e nos despimos e, aquele azul continuava em nós. As nuvens se amotinavam no horizonte de roxo meio cinzento. As luzes eram acesas nas casas, mil quadrados amarelecidos; flores que eram brancas, agora, eram amarelas pelo laranja das luzes dos postes e seus galhos verdes mais se pareciam com aquele azul oceano que nos faz perder o juízo por aí. E pouco a pouco tudo era amarelo-azul. Tanto azul em amarelo. Tanto me fazia lembrar Van Gogh. Tanto me lembrava ele.

Nenhum comentário:

Postar um comentário