1 de outubro de 2011

O amassar

E como dói. Dói em pensar a ausência do não lugar, do não acontecimento.

Dói que mal posso pensar; mal posso olhar, não posso...

Nada. Paraliso-me no tempo, o ambiente me diminui, me contamina com sua solidão de pessoas. Olho, e tudo que vejo, é a minha angústia em espelhos físicos, é minha aflição viva em meu corpo que tamborila no espaço sereno. Ando numa espaçonave solta na gravidade. A grave palavra que emoldura o rosto que brilha no horizonte sem cor de meu universo.

Verso quebrado em três sonetos mal feitos. O mal da minha cara lambida de cansaço vivido. O ouvido do inferno que tudo escuta de minha alma ancorada numa calma boba de um alaranjado pôr do sol.

O pôr da minha morte em cada sol da manhã orvalhada de minha face. Facetadas, mil luzes em estrelas cadentes das nuvens de Monet. Viajo no momentâneo Van Gogh de minha loucura quieta num robusto copo licoroso. O busto da minha estátua de pedra mole e lânguida; a estátua da minha liberdade idealizada, apodrecida no musgo do contorno do gesso. Música silenciosa da cidade dormida, calada, empoeirada de ossos em osteoporose. Doença equilibrada de fumaça viciosa; grossas cortinas e colares que prendem o meu pescoço em suas mãos. Mãos de unhas bem cortadas, na pálida digital que nunca me toca, mas me caleja de pesares e sonhos pervertidos de enclausuramento mental.

Mente, cérebro, cinzento pensamento do castelo de minha felicidade; o jogo de cartas na mesa de bar. A mesa melada de bebida amanhecida em várias noites. Relâmpagos noturnos que fervem meu metabolismo, matam os mil neurônios que pensarão numa alternativa de escapar daqui.

Corro e fujo daqui, permeio meu próprio círculo metafísico, encontro a religião e a teologia do olhar perdido no negro da voz da lua. A lua de minha infância, que suas sombras eram deuses da paz, sua luminosidade girava meu espírito, o espírito da inspiração. A lua que casava-me de véu pela rua vazia da vizinhança. A noiva viúva do dia, do sol alaranjado no horizonte criminoso de minha visão. Laranja cáqui de meu estado, o Estado boquiaberto do meu ânimo, a pomba lenta da rodoviária, o teto que bloqueia o mesmo sol e só deixa o cheiro da urina seca penetrar meus pelos e cabelos.

Aquela luz cibernética que me leva em sofreguidão de mil mundos num só. Leva-me veloz na calçada suja dos homens que comem o arroz azedo dos sacos plásticos. As centenas de narizes espremidos no vidro velocímetro que me leva para casa. A morada dos bueiros e do luar cravejado de humanidade. O sexo guiado em cartilhas de burra modernidade fotografada. Fotografo-me na lente que memorizo ser minha vida minha. Vida-morte livre-presa na calada noite de hoje.

NathalyaG 30, setembro, 2011 – 22:02 – São Paulo

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