7 de julho de 2010

O silenciar das vuvuzelas

Quase uma semana da derrota do Brasil nos gramados da África do Sul e parece que as coisas se normalizam aqui pela nossa pátria. A Copa, lá de Joanesburgo, quase é esquecida, a não ser pelos repetidos programas esportivos que destacam as goleadas dos dias e vislumbram com minuciosas análises de impedimentos e faltas não marcadas, pela surrada e injusta arbitragem do mundial de 2010.
Foram muitas manchetes declamando amargamente a derrota do Brasil e confesso, que foi triste o fim do último tempo quando os placares marcavam 2X1 para nossos adversários e, que quase me emocionei vendo o goleiro Júlio César ao dar uma entrevista para um repórter da Globo em frangalhos emocionalmente. Mas acabou. O “sonho ao hexa brasileiro” vai ficar para uma outra vez, e o país do futebol volta pesadamente ao trabalho ininterrupto e pelo início das campanhas eleitorais. Nas ruas, as bandeiras vão sumindo das janelas, as camisetas da seleção vão ao poucos desbotando, os comércios se pintam de outras cores que não o verde e o amarelo e, finalmente, o lento silenciar das vuvuzelas tomam as ruas.


Voltando um pouco no tempo, no primeiro jogo do Brasil contra a Coréia do Norte, as pessoas pareciam ter sido tomadas por algum tipo de feitiço patriótico e se vestiram de verde e amarelo, compraram bandeirinhas para enfeitar as sacadas de suas casas, saíam apressadas do trabalho, lotavam os transportes públicos e, no lugar do mal humor corriqueiro de metrôs cheios, via-se pessoas sorrindo e com um brilho de expectativa no olhar. Por um momento me perguntei: “o que será que está acontecendo além da estreia da seleção na Copa?”. Mas a única resposta recendia em minha pergunta. As pessoas demonstravam um sentimento de amor pelo país, ou simplesmente uma mera esperança de ver sua nação ganhando algo mundialmente e ser reconhecido poderosamente numa esfera internacional, mesmo que esta seja do futebol.


E de onde vem toda essa esperança? Se toda essa alegria e paixão por uma nação que constantemente é abalada por escândalos corruptos, da violência urbana, de saques rurais supera tais problemas, qual é a fórmula do futebol? E no dia da derrota, os torcedores mais nervosos exclamaram palavrões contra o Dunga, a maioria dizia já saber da vitória holandesa e se lamentavam queixosamente do fracasso e da fragmentada situação humilhante que todos os brasileiros se encontravam naquela hora. E agora? Onde estava o furor patriótico? E as canções de orgulho de ser brasileiro? As queixas ao técnico se multiplicaram.
A resposta, é que tanto as vitórias quanto as derrotas marcam o fim lúdico de uma esperança e uma alegria de uma melhora no bem estar do homem como um todo que a Copa traz a todos os países que nela disputam à taça.


Desde os primórdios da civilização, os homens primitivos organizavam rituais e festas para comemorar ou dar início a uma nova situação para determinada comunidade. Com o tempo, as festas e os rituais, sejam eles religiosos, acadêmicos ou culinários, não deixaram de existir e sim, foram evoluídos e aperfeiçoados. Antropologicamente, toda a festa ou ato que faça o homem se desvencilhar de seu cotidiano laborioso, é um ato de renovação do espírito e da mente humana.
Em nossa comunidade ocidental atual, vemos diversos rituais religiosos e outros lúdicos como o futebol, a festa de aniversário, a balada do fim de semana, os shows, entre outros. Todos esses mecanismos de evasão, de lazer ludibriam o cansaço do trabalho, transpõe a seriedade para um nível mais despojado e promove a exaltação, o exagero e a felicidade comemorativa ou ritualística.
A Copa do Mundo é mais um artifício criado pelos homens que se utilizada de um jogo que representa todo um país nos passes de bola de onze homens em um gramado. O grito de alegria ou de frustração declama isso, a felicidade e os exageros pertinentes a qualquer festa humana que dribla brilhantemente o nosso dia a dia e faz com nos esqueçamos, mesmo que por 90 minutos, de nossas responsabilidades. A cada vitória nos sentíamos renovados e ganhadores de algo que só existe simbolicamente.
Quando a seleção pegou seu avião de volta ao Brasil, alguns choraram, outros falaram mal e poucos não ligaram, mas inconscientemente, essa frustração da perda de uma oportunidade a um título futebolístico, demonstra a tristeza por não ser mais a festa do Brasil e sim do resto do mundo. Os cotidianos voltam ao seu ritmo normal, e o carnaval brasileiro se desmonta. A festa termina, os holofotes se apagam, as vuvuzelas se calam, e tristemente temos que voltar aos trabalhos, as responsabilidades, por minutos esquecidas de sua existência. Entretanto, a memória dos jogos e da felicidade que sentíamos continua em nossa mente, e é esse retorno a memória que causa a renovação do espírito antropológico humano.
Sem ufanismos desnecessários, lançamos mão de demonstrar que amamos o nosso país e paramos de usar camisetas verde e amarela e de gritar sobre o nosso orgulho de sermos brasileiros, mas o patriotismo continua (salvo as pessoas hipócritas que torcem uma hora e reclama demais sem nada fazer em outro momento seguinte), mesmo que apagado e pouco chamativo.


Por fim, mesmo parecendo algo supérfluo e sem sentido, todos os mecanismos lúdicos de uma sociedade, de jogos ou de exposição artística, revelam essa necessidade humana de se propagar uma esperança, uma renovação, um retorno as origens animalescas mais remotas; que é a de festejar sem tempo nem espaços delimitados, de poder gritar gol sem conseqüências morais, de poder torcer e chorar sem ser ridicularizado e, enfim, de ser homem em sua essência, antes de mais nada.

Um comentário:

  1. Oieeee Naty! Vim te parabenizar pelo blog e te desejar sucesso! Vc tem muito talento menina! Bjosss e boa sorte! =D

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