10 de março de 2012

Mundo Paulista

Se fosse juntar todas

as coisas jogadas e espalhadas

pela casa,

conseguiria montar

um mundo.


Pegaria a sobra do café

na xícara e beberia todo

o gosto de chuva

que molha o asfalto.

Com o lenço preto,

poderia enrolar o frio e o vento

que corre pelas livrarias

de conversas e páginas amareladas.

Com a caneta eu desenharia

ruas, avenidas,

semáforos e contratempos.


Se fosse juntar tudo,

talvez não desse em nada.

Muito provável que se revelasse

ondas de incompreensão e passos,

que porventura,

fossem os meus.


Se fosse lavar a louça

amontoada na pia,

eu viria uma pilha de

mendigos maltrapilhos,

encarniçados de fome e frio.

Na comida seca nos pratos,

um bando de resignados e esquecidos

nas mãos de alucinações.

Nas talheres manchadas,

um óleo puro e asqueroso,

seria a súplica incoerente

do delinqüente que mata

a senhora que não quis

lhe dar sua bolsa.


No fim, se tudo lavasse,

nada sobraria,

tudo acabaria num esgoto,

numa cela podre e mal cheirosa,

numa languida prisão sem paredes.


Se fosse juntar todas

as roupas espalhadas,

eu montaria um caleidoscópio,

um arranjo de pessoas,

as pendurariam em balões de festa coloridos

e faria um carrossel-cidade

uma roda gigante-metrópole.


Se pudesse mesmo,

eu construiria o óbvio

e deixaria cada objeto

em seu lugar.


Deixaria minhas coisas

num vão oco entre

a sombra e a poeira,

a cor e a dança.

Nenhum comentário:

Postar um comentário