Se fosse juntar todas
as coisas jogadas e espalhadas
pela casa,
conseguiria montar
um mundo.
Pegaria a sobra do café
na xícara e beberia todo
o gosto de chuva
que molha o asfalto.
Com o lenço preto,
poderia enrolar o frio e o vento
que corre pelas livrarias
de conversas e páginas amareladas.
Com a caneta eu desenharia
ruas, avenidas,
semáforos e contratempos.
Se fosse juntar tudo,
talvez não desse em nada.
Muito provável que se revelasse
ondas de incompreensão e passos,
que porventura,
fossem os meus.
Se fosse lavar a louça
amontoada na pia,
eu viria uma pilha de
mendigos maltrapilhos,
encarniçados de fome e frio.
Na comida seca nos pratos,
um bando de resignados e esquecidos
nas mãos de alucinações.
Nas talheres manchadas,
um óleo puro e asqueroso,
seria a súplica incoerente
do delinqüente que mata
a senhora que não quis
lhe dar sua bolsa.
No fim, se tudo lavasse,
nada sobraria,
tudo acabaria num esgoto,
numa cela podre e mal cheirosa,
numa languida prisão sem paredes.
Se fosse juntar todas
as roupas espalhadas,
eu montaria um caleidoscópio,
um arranjo de pessoas,
as pendurariam em balões de festa coloridos
e faria um carrossel-cidade
uma roda gigante-metrópole.
Se pudesse mesmo,
eu construiria o óbvio
e deixaria cada objeto
em seu lugar.
Deixaria minhas coisas
num vão oco entre
a sombra e a poeira,
a cor e a dança.
Nenhum comentário:
Postar um comentário