7 de março de 2012

Se assim não fosse

Se fosse outro lugar?

Uma outra época, talvez,

iríamos ser assim?

Os rostos roçariam

tão descuidados?

A barba estaria por fazer,

da mesma forma que hoje?

Os sapatos seriam sujos,

mal cuidados?


Usaria gravata?

Uma azul marinho para combinar

com a falta de cor dos seus olhos.


No meio da rua eu iria

acenar, com os punhos

enrolados num grosso cachecol.

Acenaria para você,

você sem gravata.


Estaria com os cabelos desgrenhados.

O sorriso jamais

poderia me enganar.

Uma neve cairia como uma

brisa em meus ombros.

Meus ombros arqueariam

num grito úmido como

fiz naquele verão?


Nenhum verão poderia

viver debaixo de tanta

neve.


O curandeiro que vendia

doces na esquina

não quis me dar a benção.

Tive de esperar por aquele

que vendia enfeites de

cortinas.


Pendi um brilho tentáculo

em sua cortina bege.

Tive de beber o resto

do vinho. Bebi aquilo

que me deste.


Se pudesse servir-te

eu mesma, faria de

uma maneira a poder

matar-te.


Mataria a parte do agora,

que acaba por atropelar

o algoz do que nunca fostes.


Mas não ousaria falar de

morte mais uma vez.

O que vim aqui fazer,

é perguntar-te:

Se sabes como seria

Se assim não fosse.


Se arregalaria os olhos

frente à calma e a

quietude ou, apenas,

desviaria seus passos

para o meio fio da lua de outono?


Se assim fosse,

outro lugar,

eu certamente

teria de sepultar

A sua mão fina,

Seu rosto jovem e

Seus olhos sem cor.


Teria de enterrar, eu mesma,

seus sapatos bem cuidados,

olhando uma última vez

para a benção do curandeiro

que guarda no bolso de sua calça.

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