Se fosse outro lugar?
Uma outra época, talvez,
iríamos ser assim?
Os rostos roçariam
tão descuidados?
A barba estaria por fazer,
da mesma forma que hoje?
Os sapatos seriam sujos,
mal cuidados?
Usaria gravata?
Uma azul marinho para combinar
com a falta de cor dos seus olhos.
No meio da rua eu iria
acenar, com os punhos
enrolados num grosso cachecol.
Acenaria para você,
você sem gravata.
Estaria com os cabelos desgrenhados.
O sorriso jamais
poderia me enganar.
Uma neve cairia como uma
brisa em meus ombros.
Meus ombros arqueariam
num grito úmido como
fiz naquele verão?
Nenhum verão poderia
viver debaixo de tanta
neve.
O curandeiro que vendia
doces na esquina
não quis me dar a benção.
Tive de esperar por aquele
que vendia enfeites de
cortinas.
Pendi um brilho tentáculo
em sua cortina bege.
Tive de beber o resto
do vinho. Bebi aquilo
que me deste.
Se pudesse servir-te
eu mesma, faria de
uma maneira a poder
matar-te.
Mataria a parte do agora,
que acaba por atropelar
o algoz do que nunca fostes.
Mas não ousaria falar de
morte mais uma vez.
O que vim aqui fazer,
é perguntar-te:
Se sabes como seria
Se assim não fosse.
Se arregalaria os olhos
frente à calma e a
quietude ou, apenas,
desviaria seus passos
para o meio fio da lua de outono?
Se assim fosse,
outro lugar,
eu certamente
teria de sepultar
A sua mão fina,
Seu rosto jovem e
Seus olhos sem cor.
Teria de enterrar, eu mesma,
seus sapatos bem cuidados,
olhando uma última vez
para a benção do curandeiro
que guarda no bolso de sua calça.
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